O POVO DO MUNICÍPIO DE JOÃO MONLEVADE, por seus representantes na Câmara aprovou, e eu, Prefeito Municipal, sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Fica declarado como poema-símbolo da cultura literária do Município de João Monlevade, o poema "Monlevade, Saga", de autoria do professor Luciano Clemente Mendes Lima, constante no Anexo I desta Lei.
Art. 2º Caberá ao município, através dos Poderes Legislativo e Executivo, a promoção e divulgação do poema na qualidade de símbolo municipal.
Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
João Monlevade, em 29 de junho de 2022.
Registrada e publicada nesta Assessoria de Governo, ao vigésimo nono dia do mês de junho de 2022.
Este texto não substitui o original publicado e arquivado na Câmara Municipal de João Monlevade.
Luciano Clemente Mendes Lima
E geme o negro numerado
o engenho o boi a garapa
esfrega escrava e sabão
anágua a bica cantando
e bula a grita a fuzaca
se esgueira e cala ao açoite
tronco guilheta e peia
garganta engasgo e tensão
essas tenazes e roda
água martelo e calor
moldam dinâmicos gestos
de terra mato e labor
depura da canga o ferro
cadinho o fogo e a lupa
martelo malha e transforma
tempera o pranto e o suor
dobrada fileira de esteios,
estirpe nobre das sesmarias de mato
das bandas de São Miguel
do Piracicaba encachoeirado
pilares sustentam solar e fazenda
em noites de paz e serões
estrelas e "vin de lignac"
de monlevade e doutores
rasgando a vulva do chão
gerando ouros e dores
suores prego pilão
e a roda martela e molda
o sangue que negro e solda
despeja gotas no chão
valsa a varanda
rendada de cores
sorrisos e anquinhas
de clara sophia
(à marzuca, barão.)
atravessa o salão
para o pátio repuxo
das águas da serra
das negras mucambas
de forno e fogão
(-vem aqui, senhor jean paschoal, estudar la leçon!)
o outro lado retumba de jongo o batuque
e umbigada o tambor caxambu que marimba
o calor o suor urucungo e cuíca
tum-dum xique-xique que a bunda crioula
lasciva a senzala e o senhor berimbau
berim bau
o tempo contou
berim bau
a nuvem embriaga o céu e transforma
até o bom tempo
berim bau
no cemitério em jardim
descansa félix arrodeado das mucambas e crioulos
fortes para em cortejo e estilo
atenderem à trombeta do juízo final
as parcas tecem no tear aranhas
estiram teias linhas encasulam
a névoa do tempo
onde está, jean félix, a lupa
que o frio da tua morte impede que se malhe?
é lasso o músculo é lassa a mente
(as parcas tecem no tear aranhas)
teus negros, félix, preferiam ser teus que livres
e livres dispersos não te encontram mais.
(estiram teias no tear as parcas)
- onde está, caro jean, aquela bulha
álacre, acre em contradança e vida?
(névoa no tempo, no tear aranhas)
- francisco, é hora que “noblesse oblige”
não venhas só, usa o moderno meio
forja de novo, muito mais e quanto
traça o teorema, junta o teor da canga
e vem de forjas e estaleiros tudo
e vem que é teu o minueto e a valsa
alfaias deste altar, as talhas deste catre
aqui está, francisco a mesa água da serra.
serve o “cognac” e o “vin de bogenet”
forja de novo e muito mais e quanto
a lupa incandescente, teu brasão, teu manto
(as parcas tecem no tear aranhas estiram teias linhas encasulam a névoa no tempo)
e o tempo bocejou trinta e oito anos e silêncio
marulharam águas do piracicaba
nas caudas dos douradoros a piaba
apenas espiava a margem e afogava
em silêncio as toneladas adormecidas
em restos do “bloomery forge”
agora madeirando as comas e os tucanos
nidificam no solar e mamoeiro
bebericando respingos e jabuticabas
que transportam na cor para o descanso
do senhor de monlevade
(estiram teias linhas e encasulam no tear as parcas as aranhas tecem a névoa do tempo)
alguém percebia moverem-se
carneirinhos brancos na serra
pros lados de são gonçalo
brancos
de algodão e chapéu de palha
carneirinhos ordeiros pioneiros
na faina de comprar trocar vender
destino e vida sobreviver
(a orla do chapéu de palha escondia o sorriso caipira de quem é dono da fórmula de
enxergar melhor e ser maior)
berim bau
a nuvem embriaga o céu e transforma
até o mau tempo
berim bau
- louis, que vieste fazer aqui?
não sentes os ventos da europa
nazistas falangistas e fascistas
telegramando ideias anti-liberais?
não te disseram isso em aix-la-chapelle?
wall street não te serviu de lição?
ah, acreditas no new deal mais que roosevelt
new deal, novo mundo, novo Monlevade
rasga outra vez o chão da fertilidade
agita o vale, edifica
atrai promessa e esperança
desfralda a nossa bandeira
que é belga e mineira
que é franco-luxemburguesa
mais que tucanos, bem,-te-vis, araras
(gentes da terra e cearas)
coloriram de verde, amarelo, azul
aqui no hemisfério sul.
- quem são estes que chegam
Romarias esperanças e milagres
De pães e peixes, de vida?
que buscam eles, louis?
que promessas lhe fizeste,
que bem-aventuranças lhes pregaste
da goela alta de um forno?
as esperanças temperas
nesses bojos metálicos
a fogo minério e solo
que ingerem e metabolizam
o verde-negro carvão.
louis jacques ensh
ressurge o sonho dissandes
ressuscita jean félix
e o transforma em monlevade
minério mineiro inteiro
caráter povo e cidade
ninguém mais vê carneirinhos
descendo as fraldas do mato
pras bandas de são gonçalo
ordeiros
pioneiros
na faina de comprar
trocar
vender
destino e vida
sobreviver.
fazem da terra sua bela rude
civitas povo luz e juventude
e a roda martela e molda
sangue nativo e migrante
obreiro e comerciante
em cadinho de destino
depura malha e transforma
para que em aço e refino
na história aos poucos se adense
um povo monlevadense
e os brancos cordeiros
já guerreiros coloridos
no mesmo fio de destino
na latitude correta
na longitude atitude
de vertical e estrutura
vida trabalho amor
cinzelam sangue e suor
tijolam massam fabricam
de aço e tenacidade
têmpera gente e cidade